Por Carlos Santiago*
É apenas um alerta construtivo. No mês de agosto de 2023, na Times Square, em New York City, uma peça publicitária do Poder Executivo Municipal mostrava uma Manaus bem diferente do cotidiano de um município que, embora exista no meio da Amazônia, não consegue sequer resolver o problema da destinação do lixo, da poluição dos igarapés e dos rios, do transporte coletivo, da falta de arborização e do crescimento de favelas e de mendigos nas ruas. Essa Manaus não está na publicidade para o “gringo” ver. Mas, os seus problemas são desafios para todos que moram aqui e que amam Manaus.
A estiagem está mostrando uma cidade ainda mais suja. Em todos os rios e igarapés onde o fenômeno natural foi impactante com a vazante das águas, o lixo lançado pela população apareceu. Na Manaus Moderna, ossadas humanas, lixos e poluições se misturavam, assim como aconteceu na praia da Ponta Negra, um cartão postal da cidade. Não há coleta de lixo eficiente nem capinação adequada. A lixeira “controlada” exala um cheiro insuportável na entrada de Manaus. Até quando os habitantes vão continuar jogando lixos nos rios e nos igarapés? Até quando o problema do aterro sanitário vai continuar?
Nas últimas cheias dos rios, vários lugares ficaram alagados, expondo habitações inadequadas e falta de saneamento básico. E, ainda, o funcionamento de estaleiros nas margens do Rio Negro, uma privatização de parte da orla de Manaus, inviabilizando o acesso de todos ao rio. Há também descontrole de palafitas e de favelas. Até quando a cidade vai conviver com a privatização da orla, sem o controle de palafitas e de favelas, além das alagações de bairros?
A cidade continua sofrendo com o crescimento desordenado. Invasões de terras são anunciadas. Queimadas de matas e florestas são anunciadas. A antiga barreira rodoviária estadual da AM 010 já não é o fim da área urbana. Há muita especulação imobiliária, pessoas ficaram ricas e até ganharam nome de ruas e de avenidas, somente promovendo grilagem. É preciso usar o solo urbano para o bem comum, com planejamento, participação social e com fiscalização implacável. Mas, quando será que a grilagem, as invasões e as especulações serão combatidas? E o uso do solo terá valor social coletivo? Como determina o Estatuto da Cidade.
Manaus é uma das piores cidades em arborização. Há enormes espaços sem qualquer árvore, como em trechos da recém inaugurada Avenida das Torres, que passa por vários bairros. Onde tinham árvores, hoje não tem mais, como na avenida que fica em frente ao Tribunal de Contas do Estado, e outras foram arrancadas no Parque dos Bilhares. Existem conjuntos habitacionais que foram construídos derrubando matas e florestas, como o Nova Cidade. Tudo obra do Poder Público. Pasmem! Até quando Manaus não irá priorizar o verde, a arborização e o meio ambiente saudável?
A pobreza cresceu em todo Brasil. Faz parte do cotidiano famílias de pedintes nos semáforos, nas áreas comerciais e em abordagens nas residências. Uma cidade que foi de esperança e de prosperidade para imigrantes, hoje é, também, um lugar de exclusão e de exploração de homens e de mulheres que sobrevivem precariamente, uma busca diária por um prato de comida.
O transporte coletivo continua sem uma proposta real para a Manaus de hoje e do futuro. Subsídios de milhões de reais são pagos pelo Poder Público aos empresários do setor somente para manter o mesmo sistema de transporte.
Alguns prédios históricos da cidade continuam em ruínas. O Centro Histórico da cidade não tem prioridade. Parte da área do Porto está abandonada. O tempo e o descaso corroem a memória e o amor pela cidade. Nunca iremos construir uma cidade para todos sem amor, sem memória, sem respeito e sem responsabilidade. Os desafios são de todos. Manaus não é feita somente pra “gringo” ver. É o lugar de todos e para todos.
* sociólogo, Analista Político e Advogado.