Por Carlos Santiago*
Na última semana, o deputado Roberto Cidade (União Brasil), presidente da Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam), reforçou a sua pretensão de ser o candidato escolhido pelo grupo político do governador Wilson Lima para disputar o cargo de prefeito de Manaus nas eleições de 2024, o que exigirá dele mais ousadia política para viabilizar o seu nome em um inadiável confronto direto com David Almeida, com reflexo na montagem de acordo para as eleições de 2026, em que o cargo de governador estará em jogo.
Em junho, Roberto Cidade, que é deputado estadual, esteve fiscalizando as possíveis irregularidades cometidas no Festival Folclórico do CSU do Parque Dez, local administrado pela Prefeitura de Manaus, e depois anunciou providências; no dia 20 de outubro, ele cobrou do Poder Executivo de Manaus, via expediente legislativo, o plano de ação para o período de cheias dos rios; e na inauguração de uma obra na área de mobilidade urbana realizada pelo Governo do Estado, fez crítica à Prefeitura da capital sobre a pintura da calçada da Ponta Negra, afirmando que não se resolve os problemas da cidade somente com pinturas.
No mesmo evento, Roberto Cidade disse que o seu nome estava à disposição do grupo político, do qual faz parte, para uma candidatura ao cargo de chefe do Poder Executivo de Manaus. O governador Wilson Lima que estava presente no evento não fez sinal positivo e nem negativo. Tudo ficou em aberto, um indicativo de que o presidente da ALEAM deve buscar o caminho para se viabilizar politicamente e eleitoralmente. E isso requer mais ousadia política.
É claro que Roberto Cidade tem ousadia política. Não foi por decisão divina que ele chegou à presidência da ALEAM e, recentemente, conseguiu mudar a Constituição estadual para renovar o seu mandato de chefe do legislativo estadual. Porém, para conquistar a Prefeitura de Manaus terá que ser mais ousado. Mostrar que tem liderança para obter novos apoiadores, autonomia política para formulação de proposta na resolução dos graves problemas da cidade, competência para administrar a maior cidade do Norte do Brasil e, também, ser capaz de construir uma imagem de pessoa com empatia popular.
Quem acompanha as movimentações políticas no Amazonas sabe das reportagens produzidas pela assessoria de comunicação de Roberto Cidade sobre os seus trabalhos na Aleam, suas visitas aos municípios e bairros de Manaus, com ilustrações de fotos abraçando crianças e idosos, pegando nas mãos de cadeirantes e comemorando os avanços das mulheres.
Isso tudo é importante, mas as imagens de político abraçando pessoas simples, o vereador Raulzinho da Câmara de Manaus, faz melhor que qualquer um; corrida para apresentar número elevado de projetos de lei, o ex-deputado Wanderley Dallas, sempre ganhou. No entanto, Raulzinho e Dallas não chegaram a um cargo majoritário. É preciso ir muito além disso.
Tem que mostrar que é, de fato, um líder. Ser uma liderança e possuir autonomia para decidir são critérios importantes. Agora, não é possível apontar os problemas da cidade e propor soluções sem conflitos com o prefeito atual. Assim como não é possível ter autonomia sem deixar de ser apenas mais um aliado do chefe do governo estadual. Lembrando que o último presidente da Aleam que mostrou que possuía liderança e autonomia para decidir chegou ao cargo de prefeito: foi o atual prefeito David Almeida.
As movimentações de Cidade podem, ainda, colocar mais ingrediente nas articulações, nas alianças possíveis e nos conflitos para as eleições de 2024 e de 2026, pois envolvem o controle político da Prefeitura de Manaus e do Governo do Estado.
Portanto, se Roberto Cidade quer governar o município de Manaus, terá que mostrar liderança, autonomia de decisão, buscar preparo para indicar soluções aos problemas da cidade e conquistar empatia popular.
Sociólogo, Analista Político e Advogado.