*Lúcio Carril
Tenho duas filhas, assim como tanta gente mundo afora. Sabemos o tamanho do amor e do sentimento de proteção às nossas crianças. Todas as vezes que uma filha minha fica doente, se eu pudesse transferir o sofrimento pra mim o faria com alegria.
Falo isto para dividir um pouco da minha tristeza com o assassinato cruel de milhares de crianças palestinas. Só um governo desgraçado, com um presidente assassino, seria capaz de matar crianças e jogar no eterno sofrimento pais e mães que sobreviverem.
Conheço pouco a cultura árabe, mas sei o suficiente para dizer que é um povo que valoriza a família. Não me refiro aos fundamentalistas religiosos, mas aos que amam seus filhos, sua mãe, seu pai, seus irmãos, sua mulher.
Imagino a dor de quem está perdendo tudo.
Esta semana, a principal manifestação dos 32 brasileiros/palestinos resgatados de Gaza foi pedir para Lula trazer seus parentes. Lula vai trazer.
Entendo a mãe e a filha que desistiram de vir para o Brasil. Talvez eu também não viesse, se os meus continuassem lá. Os que vieram, o fizeram como todo ser humano que luta pela vida, mas os que ficaram, também, já que a vida de quem amo também é parte da minha vida.
Tenho tido a companhia das minha palavras de protestos e das minhas lágrimas. Elas interagem nos textos que escrevo e nas imagens que vejo. Dói muito. Revolta muito.
Algumas pessoas têm falado: por que o Hamas atacou Israel se não tinha capacidade de defesa?
Respondo, num raciocínio de quem vive num país que sofreu as iniquidades da colonização: o único direito que um povo oprimido tem é o de manter vivo seu espírito de liberdade.
Os portugueses dizimaram povos indígenas inteiros, mas esses povos lutaram até o fim contra a opressão. Se o alvo não era o soldado português, poderia ser qualquer um que representasse suas maldades, sob o olhar de quem quer se libertar.
É sempre terrível a morte de gente inocente, mas não foi o oprimido que criou a guerra.
*Lúcio Carril
Sociólogo