Ademir Ramos
Toda e qualquer religião ou ideologia para se perpetuar tem que ser encarnada no espírito dos povos conquistados.
Historicamente esse processo é marcado a ferro e fogo provocando o genocídio dessa gente com graves transformações nas organizações sociais e culturais.
O curioso de tudo isso é que o processo não é de mão única. Os conquistadores se apropriam às vezes dos valores culturais para efetivar o seu projeto de dominação e exploração.
Por sua vez, os vencidos, estrategicamente, simulam aceitar o mandonismo dos saqueadores, que se julgam o senhor da situação. No entanto, a gente do lugar faz novas interpretações com objetivo de potencializar suas forças assegurando, à medida do possível, a vida e formas de organização que permita sustentar a unidade em suas fronteiras de combate.
O Catolicismo é uma dessas fronteiras a se manifestar na releitura da religião romana a partir dos valores, credos e representações míticas das culturas indígenas, afros e demais manifestações populares que se mantém viva, de forma hibrida e sustentável no coração dos povos da Amazônia.
Por aqui o rito romano está encastelado nas Igrejas sob o mando do poder hierárquico eclesiástico. Mas nas ruas, aldeias, terreiros, comunidades, vilas, campo e cidade o catolicismo popular tem novas representações, linguagem, ritos e lideranças que patrocinam celebrações que evocam seus mitos, orixás, espíritos da floresta e encantados dos rios que têm por objetivo espiritual religar essa gente ao cosmo e ao mundo sagrado tornando esses povos senhores de sua história, libertando-se das armaduras das Igrejas e dos mercadores de almas que insistem ainda em tratar esses povos como rebanho manipulando para fins mercantis e eleitoreiro.
A resistência desses povos é inabalável às vezes buscam a conciliação mitigada pelos favores dos exploradores, em outros momentos e contextos, avaliando suas forças, transformam-se em profetas arrebatadores de seus direitos fundamentais para sustento da esperança na comunhão partilhada das bem-aventuranças.
Viva Sebastião contra o poderio dos tiranos.