A velha política da esquerda do Amazonas

Falo mordendo a língua, sim, afinal sou militante de esquerda, comunista, desde os 14 anos de idade. Já se vão 44 anos embrenhados nesse campo político polêmico, autofágico, conservador, dialético e titubeante.

A esquerda amazonense soube fazer a resistência à ditadura e participou estrategicamente da reconstrução democrática do país. No sistema bipartidário, fez do MDB sua trincheira da legalidade, elegendo deputados e vereadores.

Veio a democracia, com o Partido dos Trabalhadores já legalizado. Os partidos comunistas saíram da clandestinidade e o pluralismo partidário se fez realidade.

Aí nasceu um problema que até então vivia sob as nuvens do obscurantismo: como fazer a disputa pelo poder na democracia, sem armas, sem focos, sem a revolução sonhada?

A esquerda não se construiu como alternativa de poder no Amazonas desde a redemocratização. Não soube elaborar estratégias de alianças, formação de blocos, composições eleitorais que dessem resultados. Mergulhou numa autofagia destrutiva do seu próprio campo.

Perdura a velha política da destruição de lideranças, as vaidades pessoais acima do projeto coletivo, a “coisificação” da política substituindo a proposta humanista de construção de uma nova sociedade.

Tudo é pessoal. Nada é coletivo. Tudo é pequeno, nada é grande. Tudo é mesquinho e nada enaltece o ser.

Só para colocar em contexto o que analiso, o PT tem um vereador em Manaus e um deputado estadual, que são alvos constantes de militantes de esquerda por suas escolhas de sobrevivência num parlamento onde 99% são de direita.

Fulanizar o problema é fácil, mas quero ver colocar a crítica no campo coletivo. Zé Ricardo, Vanessa, Praciano, Serafim e muitos outros perderam seus mandatos. O erro estaria neles e não no anacronismo do campo de esquerda que não soube construir a vitória?

O resultado está aí: sem expressão, atordoada pela dinâmica do processo democrático, sem saber como fazer para enfrentar a direita e a extrema direita que se revezam no poder.

A esquerda no Amazonas joga no campo da velha política, aquela do domínio das oligarquias e dos partidos regionais. Não pensa o Brasil e nem mesmo seu estado, onde grupos políticos e econômicos aprenderam a fazer da gestão pública o locus dos seus próprios interesses. Uma prática que deveria ter sido superada, mas não encontra resistência.

Tem como mudar? Claro que tem. Tudo muda na política e nas coisas, desde que haja projeto que envolva os interesses coletivos e sociais.

Não dá pra fazer mudança quando se repete velhas práticas que dão certo para a direita, mas não para um campo que tem nas suas veias a mudança, a justiça social e o socialismo.

Para encerrar, quero lembrar que muitas posições no campo da esquerda são pequeno-burguesas. Tudo que envolve povo é condenado ou combatido. Assim foram sendo destruídas lideranças sindicais, comunitárias e parlamentares que emergiram das massas.

Lúcio Carril
Sociólogo.

By Portal Arrasta pra cima

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