Natureza

     Por Carlos Santiago*

A expressão “natureza” carrega inúmeros significados e valores. Dependendo do tempo histórico, do saber popular, das especificidades das ciências, das manifestações religiosas e das filosofias. A natureza pode ser entendida como um todo, como o conjunto de tudo que existe em movimento ou também como uma realidade apartada das manifestações humanas, ou seja, da cultura.

      No atual contexto da vida social, econômica, ecologia, política e da globalização do capital e da mundialização da cultura, a “natureza” pode ser definida como raiz das coisas, a causa comum, objeto de estudo científico, um pedaço do mundo intocável, patrimônio material e imaterial da humanidade, sinônimo de belo, reflexo da perfeição divina e até responsável pelas qualidades ou defeitos de indivíduos, como o caráter.

       Na Civilização Ocidental, as primeiras citações da palavra natureza, árvores e florestas, aconteceram na expressão oral, nos poemas homéricos contidos nas obras Ilíada (VIII a.C) e Odisseia(VIII a.C), como algo que abrange tudo e, também, a natureza humana, em especial, dos heróis.

      A palavra natureza, no latim é “natura”, pode ser traduzida por Physis, uma expressão grega. O filósofo e professor Henrique Murachco (1996), um profundo conhecedor da língua grega, depois de uma extensa pesquisa acadêmica sobre o conceito de Physis em Homero, Heródoto e nos pré-socráticos, afirma que “physis” significa “brotação”, algo que brota, que nasce e desenvolve, com era o entendimento do falante da língua grega.

        Physis como significado de natureza não é algo estático. É uma realidade em eterno movimento. Processo permanente de transformação. Trabalhar o termo Physis não é somente se reportar a realidade, a origem, mas é, ainda, a busca da origem. Já os pensadores pré-socráticos acreditavam que Physis era matéria e fundamento eterno de todas as coisas, com aparência múltipla, transitório e mutável. Brotar, nascer, cresce e perece.

       O Filósofo Tales de Mileto (624 a.C – 546 a.C), por exemplo, propôs uma teoria cosmológica a partir de observação da natureza para explicar a origem racional de tudo, em contraponto, as cosmogonias que narram a origem de tudo por meio de mitos e de deuses.

        Os pré-socráticos acreditavam que um ou vários elementos, como o fogo (Heráclito), a água (Tales de Mileto) eram causas ou causa de tudo que existia, sendo a natureza a responsável para chegar a todas as origens e as respostas. Heráclito de Éfeso (500 a.C – 550 a.C) entendia o eterno devir da natureza, uma compreensão que vem do logos, razão universal e razão humana.

      No dicionário de filosofia de Nicola Abbgnano (2014), a natureza possui quatro grandes conceitos: 1. O princípio do movimento ou da substância. Posição manifestada por pelo Grego Aristóteles (384 a.C – 322 a.C) e seus seguidores quando defendem que a natureza é o princípio da vida e de todos os movimentos que existem; 2. O princípio da ordem necessária ou nexo causa. É a disposição da natureza de move-se por si. Esse princípio foi defendido pelos filósofos estoicos; 3. O princípio a exterioridade, um contraponto à interioridade da consciência. Nesse princípio, a natureza é a manifestação do espírito imperfeito que se tornou exterior. O pensador Plotino (204 d.C – 270 d.C) é o maior expoente dessa tese; 4. O princípio de unificação de certas técnicas de investigação. A natureza seria determinada por campos de atuação da ciência e dos saberes.  

       O importante é que seguimos inquietos dando primazia ou não a natureza, sendo nós um pouco dela ou algo distante de nós, definindo-a com a causa primeira de tudo ou mero objeto descartável, traduzida no plural ou no singular, com significados relevantes ou tolos, mas muitos que revolveram enquadrá-la já morrem e foram consumidos por ela. E a Natureza ainda é tema de embates.

 *Sociólogo, Advogado e pós-graduado em Ciência Política.

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