Estamos vendo com o coração despedaçado a tragédia no Rio Grande do Sul. O Rio Guaíba se revoltou, acolheu a chuva em seus braços e lagos e fez um mar de tristeza correr pelo seu leito estendido.
Não é o primeiro rio a gritar contra a falta de convivência pacífica com os seres humanos. Um dia ele haveria de se juntar ao oceano, às geleiras em derretimento, às florestas em chamas, aos seus outros irmãos rios, mortos pela poluição, e descer a ladeira, os morros, as montanhas.
Um dia ele haveria de esborrar pelas tampas dos esgotos que o sufocam e invadir casas, prédios, escolas, fábricas e até a prefeitura e a sede do governo, que já lhe venderam para o senhor do zeppelin.
Aqui pela nossa Amazônia, os rios já vêm dando seu recado, avisando que não aguentam mais tantos maus-tratos. Eles sofrem com a devastação da floresta e choram como chorou a lua no seu amor impossível com o sol.
Outro dia os rios secaram. Mas secaram mesmo. Milhares de vidas se foram, outras milhares sofreram com a falta de água até para beber.
Mas esses gritos parecem não chegar aos ouvidos feitos de moucos e lixos e mais lixos são despejados nos seus leitos, que em muitos se assemelham a leitos de morte. Seus pequenos filhos – lagos, igarapés, paranás – são os que mais sofrem.
Os rios estão se revoltando. Eles não aguentam mais a ganância dos senhores do lucro, que pouco caso fazem se os rios viverão ou morrerão, mesmo que sua morte represente o fim do planeta. Para os senhores da usura, o que importa é o hoje e a sua sanha maldita de explorar o outro ser humano e se apropriar destrutivamente dos bens da natureza.
A humanidade caminha para a catástrofe e os desastres naturais chegam sem bater na porta. Nem precisa bater. Estão sendo chamados por séculos de destruição do meio ambiente.
Ainda há tempo para resgatar e construir uma vida pacífica com a natureza, fazendo da vida uma só vida, onde todos seres vivos sejam vistos em completa interação para manter vivo seu planeta, a casa de todos nós.
Lúcio Carril
Sociólogo