Não se luta contra o destino; o melhor é deixar que nos pegue pelos cabelos e nos arraste até onde queira alçar-nos ou despenhar-nos.
Machado de Assis
Esaú e Jacó (1904).
O Valois se deixou alçar pelo destino, mas não sem ter plena compreensão do seu tempo.
E assim se tornará candidato a vereador aos 81 anos, num intrépido desafio a todas gerações, de ontem e de hoje, para que saibam que Manaus tem um cidadão que continua honrando a história de Ajuricaba.
Félix Valois já escreveu seu nome na história política do Amazonas. Foi além: fez da política um exercício de cidadania, ética e humanismo, três elementos tão raros nos dias de hoje.
Schopenhauer diria que o velho comunista nunca largará suas armas e que mesmo diante da oposição, seguirá “continuamente em luta”
Eis um belo exemplo de cidadão. O menino nascido no bairro dos bucheiros se fez homem imprescindível. E assim caminha firme, sem claudicar, olhando para o horizonte, como quem procura sua utopia.
Valois faz o levante.
Vem candidato a vereador num quadro adverso da política em Manaus, onde a casa legislativa se tornou um antro de almas penadas transfiguradas em vozes sem ressonância.
Mas Félix Valois se põe candidato sem qualquer autossublimação. Bem que poderia fazê-lo, mas sua boa educação lhe permite apenas o singelo sorriso do cidadão de bem.
Confesso que não me causou espanto o gesto do mestre. Sua história já indicava que não iria “despenhar-se” diante do desafio de continuar servindo seu povo. Foi alçado pelo sentimento de um homem construído para caminhar na busca de seus sonhos.
Seus sonhos não cabem num mundo de injustiça e violência. Eles só florescerão na primavera.
“Ó inimigo do sol
o porto transborda de beleza… e de signos
botes e alegrias
clamores e manifestações
os cantos patrióticos arrebentam as gargantas
e no horizonte… há velas
que desafiam o vento…”
(Samih al-Qasim (1939 – 2014)
Pois é, Valois veio desafiar o vento, como na heróica e lírica Poesia Palestina de Combate.
Lúcio Carril
Sociólogo
