O Amazonas é o primeiro estado brasileiro a adotar oficialmente em sua base de coleta e armazenamento de dados ambientais uma ferramenta que une tecnologia, ciência e o conhecimento tradicional para fortalecer o monitoramento da biodiversidade, facilitar a gestão e aumentar a proteção de Unidades de Conservação (UC). O software Smart está em implementação pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente do Amazonas (Sema), com apoio da Wildlife Conservation Society (WCS Brasil) e WWF Brasil.
O software Smart já é utilizado em mais de 600 áreas protegidas de 55 países. No Amazonas, a ferramenta já é utilizada em 12 UC Estaduais. Parceira da implementação do projeto, a WCS Brasil formou 24 monitores comunitários em cinco áreas protegidas no interflúvio dos rios Purus e Madeira: Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Igapó-Açu, RDS Rio Madeira, RDS Rio Amapá, RDS Matupiri e Parque Estadual Matupiri.
As áreas protegidas são estratégicas por integrarem a proposta de criação do Mosaico de Áreas Protegidas no Baixo Rio Madeira. A iniciativa faz parte do projeto Conservando Juntos, em parceria com a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) e a WCS Brasil, apoiado pela Sema.
Smart (do inglês Spatial Monitoring and Reporting Tool) é um software de código aberto desenvolvido por um coletivo global de agências e organizações de conservação (https://smartconservationtools.org/). “A ferramenta Smart tem um poder muito grande para melhorar processos para que os gestores tomem decisões mais rápidas em diversas escalas”, avaliou o diretor da WCS Brasil, Carlos Durigan.
Após o período de treinamentos, testes e ajustes, a plataforma está passando por um processo de atualização dos modelos de dados e deve integrar-se plenamente à base de dados ambientais da Sema, que pretende ampliar o uso da plataforma para todas as 42 unidades de conservação estaduais.
“O Projeto de implantação do sistema Smart vem como um aliado na gestão das Unidades de Conservação Estaduais. A análise automática das informações vai auxiliar o Estado, em especial, na formulação de melhores estratégias de conservação e de combate à pressão e ameaças dentro das áreas protegidas, subsidiando ações de gestão, fiscalização, atividades de educação ambiental, além de políticas públicas voltadas às populações tradicionais”, ressaltou o secretário de Estado do Meio Ambiente do Amazonas, Eduardo Taveira.
Smart nas comunidades
Para implementar o projeto no Amazonas, o Governo do Amazonas e as organizações parceiras contam com a parceria das comunidades tradicionais. Moradores das próprias áreas protegidas foram capacitados para se tornarem monitores da biodiversidade e, agora, contam com essa nova ferramenta na palma da mão. As abordagens do monitoramento participativo e da ciência cidadã são essenciais para fortalecer a iniciativa.
“A participação e o protagonismo dos comunitários garantem que a gestão ambiental seja participativa e tenha um olhar diferenciado sobre o território, que vem de quem vive o dia a dia das áreas protegidas”, afirmou Carlos Durigan.
Em todo o Amazonas foram formados 60 monitores treinados, que se transformam em multiplicadores em suas comunidades. As capacitações garantem que eles aprendam como integrar a tecnologia ao trabalho de monitoramento da biodiversidade, que passa a ser desenvolvido nas unidades de conservação no âmbito de seus planos de gestão.
“Essa iniciativa tem uma função de formação muito importante. Os monitores selecionados já fazem parte do programa Agentes Ambientais Voluntários, liderado pela Sema, e passaram por treinamentos antes de serem credenciados, com um nível de formação diferenciado dentro das comunidades, o que gera um interesse na formação e aprofundamento nessa área. É um programa que está diretamente associado à formação de lideranças, fortalecimento de bases e das próprias comunidades, garantindo ainda seu protagonismo na gestão das áreas onde vivem”, ressaltou o especialista da WCS, Guillermo Estupiñán.
Protagonismo comunitário
Um dos monitores ambientais comunitários formados é o estudante universitário Kelbert Batista da Cruz, de 21 anos, que dedica 15 dias do mês ao monitoramento da biodiversidade no Parque Estadual do Matupiri.
Com a ferramenta Smart, as espécies identificadas nas seis trilhas de 5 quilômetros dentro do parque passam a ser registradas digitalmente, ampliando o alcance e a qualidade do monitoramento, a velocidade no envio das informações aos bancos de dados e, consequentemente, a efetividade das ações planejadas visando a proteção das UCs e dessas espécies. Os dados coletados pelos monitores dão origem a relatórios, que ajudam os gestores a identificarem fragilidades e potencialidades das unidades.
A nova rotina como monitor da biodiversidade fez com que Kelbert queira seguir carreira na área ambiental. “O meu trabalho mudou muito quem eu sou. Eu via as pessoas desmatando, cortando árvores, e não falava nada. Agora eu vejo que isso está errado. Tenho que alertar as pessoas de que aquilo que faz mal para o meio ambiente, faz mal para a gente mesmo também. Meu plano hoje é ingressar em uma faculdade de Biologia, que é para eu poder entender mais sobre os bichos e poder seguir ajudando, trabalhando no monitoramento da biodiversidade”, completou o monitor.