A Defensoria Pública do Estado do Amazonas (DPE-AM) realizou, nesta sexta-feira (19), mais um encontro do programa “Ensina-me a Sonhar’. A atividade, que visa promover a ressocialização dos jovens por meio da capacitação e acompanhamento psicossocial, foi realizada no Centro Socioeducativo Dagmar Feitoza, localizado na Zona Oeste de Manaus, e teve como convidados a DJ e rapper Rafa Militão e o MC Dacota, que falaram sobre trajetórias de vida e música com os socioeducandos da unidade.
“O convite veio a partir do interesse dos adolescentes em conhecer pessoas desse segmento artístico, além da coordenação do programa saber do sucesso dos artistas com o público jovem, cuja trajetória pode ser inspiração para o recomeço desses socioeducandos”, explica a defensora e coordenadora do projeto, Dâmea Mourão.
Potência e resgate
Crescida no bairro da Betânia, Zona Sul da cidade, Rafaele da Silva Militão, destaca a identificação quando o assunto é transformação de vidas por meio da arte e do diálogo. A multiratista que se dedica à música desde os cinco anos de idade, conta que programas como o “Ensina-me a Sonhar” foram dos pontos de incentivo ao longo de sua jornada.
“Eu era uma pessoa que tinha tudo para estar num lugar como esse (centro socioeducativo), se eu não tivesse as oportunidades que eu tive. Acho que esse projeto lindo e deveria se estender nas escolas, porque a minha oportunidade com a música surgiu primeiramente dentro de uma escola. Ter aceitado participar do projeto é a minha forma de contribuição, de acreditar que a gente pode fazer diferente e, se eu posso ser uma ferramenta para isso, por que não? A música salva, ela é o caminho, o hip-hop salva vidas e iniciativas como estas, também”.
Figura de destaque do cenário hip-hop manauara, MC Dacota também ressalta a identificação quando a pauta é projeto social e oportunidade. “Percebo que importância desse rolê é mostrar que a gente pode mais e tirar esse estigma de criminalidade. Eu poderia ser um deles, poderia ser pior se eu não fosse o rap. Então, fazer parte disso e estar sempre envolvidos com projetos sociais e projetos estruturais, para mim é essencial. Mostramos para eles que a arte dá essa opção para a pessoa se conhecer, saber seus limites, saber até onde o braço alcança. Favela não é carência, favela é potência e a arte está aí para mudar vidas”.
Agente de transformação
Na leitura do diretor do Centro Socioeducativo Dagmar Feitoza, Antônio Maciel, o programa “Ensina-me a Sonhar” age diretamente no resgate da cidadania e estimula aos adolescentes da unidade a reflexão necessária quanto ao cumprimento das medidas estabelecidas para a ressocialização.
“Esse programa vem para somar com as medidas socioeducativas, também simboliza um encontro com eles mesmos (socioeducandos), isso porque, o ressignificar deles com relação ao ato infracional, por si só, não acontece sem que eles não tenham outras ferramentas necessárias”, observa.
“E o programa vem justamente nessa condição, de dar ferramentas necessárias para que consigam se ressignificar nesse processo, ver o quanto são capazes. O quanto podem recontar a história deles a partir de outras histórias que o ‘Ensina-me a Sonhar’ traz”, acrescenta.
Sobre o projeto
Formulado e lançado em 2017, o “Ensina-me a Sonhar” é um programa que promove, todas as sextas-feiras, nas unidades socioeducativas da cidade, variadas apresentações de profissionais de diversas áreas de carreira, com um bate-papo entre convidados e adolescentes que cumprem medidas no local.
Além da promoção da ressocialização, capacitação e acompanhamento psicossocial, a atividade também auxilia no combate aos índices de reincidências e oferece, ainda, oportunidade de estágio na Defensoria Pública.
A iniciativa que tem sido ferramenta de transformação local e que apresenta um leque de possibilidades para os jovens, já levou jogadores de futebol, comissários de bordo, professores, bombeiros, engenheiros atores e várias outras figuras profissionais que tenham realidades semelhantes às vivenciadas pelos jovens também, com histórias de superação.
“Costumamos trazer palestrantes com histórias de vida, de superação, que tiveram, vivenciaram dificuldades, assim como as dos meninos que estão aqui internados, profissionais que vieram do interior do Estado, que passaram por dificuldades em casa, não tinham o que comer, não tinham família, e todas essas histórias de superação eles vêm no profissional como uma esperança. Então, a ideia é trazer a eles novas profissões, já que eles estão em idades que têm que buscar um trabalho. Futuramente, nosso objetivo é prepará-los para quando saírem das medidas de internação, quando voltarem para a sociedade, trabalhando conquistando seus objetivos”, explica a defensora Monique Cruz, também responsável pelo programa.